Muito prazer, pessoal! Como vão?
Me chamo Marco Argento. Graduei em Psicologia pela PUC-Campinas e entrei no Mestrado pela mesma instituição na área de Avaliação Psicológica.
A partir de agora me aventurarei por aqui com textos, ao menos, instigantes.
“Diálogos InterTeóricos presumem a diferença. Especificamente, o prefixo “inter-“ sugere a ideia de “entre” , “no meio de”, no caso “teorias” (Porto Editora, n. d.) Por sua vez, em seu sentido etimológico, “teoria”, deriva do Latim “theoria”, formado “thea”, que sugere a ideia de “uma visão” (Etymonline, n.d.). Entre diferentes visões, quase como uma “entrevista” (“entre-” + “vista”), ocorre o “diálogo” que, por sua vez, é formado por “dia-“ (através, entre) e “lógos” (dentre seus significados, há a noção de “palavra” ou até “falar”). Portanto, através da palavra (falada, gestual, escrita e/ou até desenhada, quem sabe) pode haver a partilha de visões sobre um mesmo fenômeno. Eu, com a minha visão, você com a sua.
No artigo inicial, compartilho uma visão sobre “música”, a partir de conceitos teóricos da Análise do Comportamento.
Convido você a acompanhar as publicações de “Diálogos InterTeóricos” e juntar-se a mim para que possamos discutir sobre as ideias apresentadas!
Será um prazer dialogar com você!”
Ruptura da Barragem
“Barragens são criadas para conter o fluxo de água em uma determinada região. Ao conter seu fluxo, é possível favorecer condições que possibilitam o surgimento de casas, famílias, vegetações… Muitas possibilidades de vida e existência!
Há benefícios e há prejuízos ao utilizar barreiras… Venha comigo e veja se faz sentido!
A manutenção de uma barragem exige recursos físicos e humanos. É necessário garantir que o material utilizado para a construção da barragem seja bom o suficiente para manter sua integridade. É vital conter infiltrações que surgem e que ameaçam a fortaleza da barragem. A avaliação periódica do estado desse empreendimento é devida.
Entretanto, barragens humanas — não aquelas criadas por castores e outros seres aquáticos —, são interferências “estrangeiras” na natureza. Interferências que alteram o curso “natural”/“usual” de determinados eventos em situações específicas. Na ausência da barreira humana, é possível que os fenômenos não se comportem da mesma forma como se comportaria na natureza, não é? Já viu algum rio que, por vontade própria, cessou seu caminhar?
Independentemente da origem da barreira, atrás de cada barragem humana e não-humana, a água cresce de volume. Silenciosamente, a água se une e fica gradativamente irritada. Algum ser desejou que ela parasse. (Por quê? A partir da quais critérios?).
De fato, as pressões pararam a água. Será que realmente parou? Na verdade, “parou” aos olhos de quem quis cessar seu movimento “aparente”. Talvez, incômodo às vontades de agências sociais mais fortes? (Mas, não mais fortes que a natureza…).
Longe do público algoz, a água agita-se, reúne-se, reconhece sua força, percebe a relevância da integração das correntezas… Diante disso, sua identidade fica evidente: a natureza da água não é “parar” seus movimentos, é? Pois é…
No caso das barragens não-humanas, a irritação aquática não atinge seu pico de fúria. As alterações do fluxo da água exercem influência nas prudentes barreiras construídas por outros animais. Com respeito, estes seres “encantados” se ajustam às demandas da água. Ocorre, então, um equilíbrio entre o movimento da água e o movimento dos animais. Tal equilíbrio garante a harmonia, interdependência e existência cooperativa e solidária entre seus envolvidos.
No caso das barreiras humanas… Bem… Chega o momento em que alguém esquece de verificar a infiltração da barragem. O que gera esse “esquecimento”? Desatenção? Sono? Desconsideração? Interesses obscuros? Seria um esquecimento mesmo? Não importa. (Será?). Talvez, para o mundo mortal, importe. Agora, no mundo da perenidade, o resultado dessa inação humana será o mesmo: a água vencerá a barragem. A partir disso, a tristeza ou a alegria podem estar presentes.
Com certeza, houve sinais de que a barreira iria se romper. Certamente, os sinais foram interpretados por humanos — e, de modo até mais preciso, por carinhos seres não-humanos. Contudo, cada humano interpreta os eventos da forma que sua história, ensinamentos, interesses e condições materiais atuais permitirem, não é mesmo?
Sábios aqueles que reconheceram os sinais da força da natureza, tristes os que duvidaram dos sábios, perigosos aqueles que criaram as dúvidas das palavras dos sábios; mortais aqueles que sustentaram a descrença nos sábios enquanto seguiam suas cuidadosas considerações.
Aos dois primeiros grupos, desejo união para enfrentar os destroços gerados pelas águas naturais aprisionadas por seus antepassados e líderes atuais. Erros são esperados. É possível compreendê-los, compartilhá-los e combatê-los.
Aos dois últimos grupos, anseio que sofram as piores consequências naturais já vistas na Terra. Suas mesquinharias podem ter contribuído para a ampliação de condições promotoras de sofrimento. Será que serão capazes de admitir que tiveram um papel no desgosto da água? Será que reconhecerão que seus semelhantes sofreram por mentiras que foram instauradas?
Desejos” e “anseios”… Será que apenas minha vontade mudará a realidade que atinge injusta e desigualmente os grupos citados? Ao tornar minha vontade pública, poeticamente, ela torna-se uma “voz de alerta”; um grito de “Cuidado!”. As implicações de nossos atos chegarão, cedo ou tarde, até nós. Quando as implicações forem terríveis, será mais difícil reconhecer-se no “Infamiliar”…
Eu sei, eu sei… Dói eu me reconhecer no “terrível”… Como dói! Para evitar esse reconhecimento, devo reconhecer o fenômeno e evitar sua temida ocorrência em meus atos e minha vida! Coragem, certo? Não é simples.
Para você, digo a verdade: ninguém sai ileso da ruptura da barragem — nem mesmo a raivosa água. Se um dia seus movimentos foram delicados e calmos, a presença regular do açoitamento de sua liberdade criou uma motricidade aquática terrivelmente forte e impetuosa. Com a ruptura daquilo que, por anos, impediu seu curso, surge ódio e destruição. A sua face cristalina pode se tornar barrosa, suja e irreconhecível. Se não houver cuidado, a linda água perder sua transparência e essência para sempre. Seria possível recuperar sua terna face?
Na realidade, nem a água, nem os sábios, nem tristes, nem os perigosos e nem os mortais serão os mesmos após o evento paradigmático da Ruptura da Barragem. Na verdade, a cada interação, há transformação, embora a ruptura potencialize uma transfiguração mais crítica.
Como o evento fatal tocará cada ser? Não sei… Vamos avaliar, atuar, lamentar, refletir, evoluir…?
A partir dessa realidade, posso pedir algo? Posso revelar meu coração? Minha vontade é de que o sofrimento dos seres favorece a aprendizagem: Pathei Mathos (em grego, “aprender com o sofrimento”) Se não foi por amor, a transformação pode vir pela dor…
…Não?
18/04/24 - 01:41
21/04/24 - 09:36
Recomendações:
- Engenheiro Ambiental: Priorize a manutenção regular das barragens para garantir sua integridade estrutural e prevenir possíveis rupturas. Além disso, promova a implementação de sistemas de monitoramento contínuo para detectar sinais precoces de instabilidade.
- Químico com foco em Água: Certifique-se de que a água armazenada pela barragem atenda aos padrões de qualidade estabelecidos para uso humano e ambiental. Realize análises regulares da qualidade da água e implemente medidas para prevenir a contaminação por materiais provenientes da barragem.
- Psicólogo Comportamental: Promova a conscientização sobre a importância da prevenção e da resposta adequada aos sinais de perigo associados às barragens. Incentive o desenvolvimento de comportamentos de vigilância e ação preventiva, tanto a nível individual quanto comunitário, para mitigar os riscos de ruptura e seus impactos emocionais e sociais."
Maio de 2024
Música
APRESENTAÇÃO
Neste texto, buscarei apresentar a minha visão acerca do que é música, qual é a sua importância e o que pode ser o “fazer musical”. Os textos foram escritos em momentos diferentes. Abaixo de cada texto, inseri a data de cada edição realizada para você acompanhar este processo literário. Vale destacar que o texto em geral envolve uma opinião pessoal sobre os temas abordados. Dados empíricos seriam necessários para endossar as hipóteses formuladas. Contudo, a leitura pode ser interessante para pessoas interessadas e envolvidas com arte. Ótimos momentos para você neste “episódio verbal assíncrono”.
INTRODUÇÃO
Na comemoração do aniversário de um amigo, ele me questionou sobre minha visão de mundo. Depois, foi mais específico: pediu para que elaborasse a minha visão sobre música. Para ser sincero, nunca havia parado para analisar esse tema de maneira pormenorizada, apesar de estar envolvido na área músical. Senti-me feliz com sua proposta e decidi escrever algumas ideias sobre isso.
1. O QUE É A “MÚSICA”?
Para responder essa questão, poderia buscar a definição desta palavra no dicionário ou consultar profissionais da área. Desta vez, não farei isso. Formularei uma definição de “música”, embasada pela prática e também a partir de reflexões filosóficas. Para mim, “música”, poderia ser entendida como um “comportamento”. No caso, esse conceito deve ser compreendido como a complexa relação entre eventos ambientais e manifestações do organismo (Guilhardi, 2022). Assim, tal como o conceito de “comportamento”, entendo a “música” como um conceito que envolve variáveis físicas (naturais e sociais) e variáveis dependentes (manifestações de “organismos”). Sem a consideração e definição dessas variáveis, não há “música”, ao considerá-la como “comportamento”. A “música”, enquanto “comportamento”, é determinada historicamente por condições materiais, isto é, eventos físicos (naturais e sociais). No caso da música de seres humanos (e talvez de outras espécies), existe a determinação cultural. Aqui, vale ressaltar que entendo “cultura” como produto da ação de múltiplas agências de controle que realizam o arranjo de circunstâncias/contingências naturais e sociais que determinam, selecionam e mantêm os comportamentos de membros de determinada comunidade verbal (Adorno & Horkheimer, 1947/1985; Ming et al., 2023; Skinner, 1953/2003). Somada às determinações históricas e culturais, há a determinação natural. Os diversos padrões sonoros presentes nas músicas, naturalmente (ou seja, sem mediação social), evocam, eliciam e selecionam comportamentos de organismos vivos da Terra (quiçá de outros planetas…) (Ming et al., 2023; Skinner, 1957). No entanto, no caso da espécie humana, a determinação histórico-cultural estabelece, de forma mais efetiva do que em outras espécies, as funções de estímulos sonoros presentes nas músicas. Por exemplo, em determinada comunidade verbal, uma nota musical pode apresentar uma função evocativa aversiva para a resposta de “tapar os ouvidos” e, ainda, eliciar aceleração de batimentos cardíacos do sujeito. Por sua vez, os mesmos comportamentos podem não ser evocados-eliciados na presença da mesma nota musical se o sujeito pertencer a outra comunidade verbal (ex. músicas ocidentais vs. músicas orientais). Portanto, a música é determinada histórica, cultural e naturalmente, sendo as duas primeiras determinações mais presentes na espécie humana. Além do que foi mencionado, a música também pode ser um um “comportamento verbal”, tanto do falante, como do ouvinte. Sobre esse ponto, há uma controvérsia. Há pessoas que dizem que existe música “no canto dos pássaros”, “no zunido das asas das abelhas”, “no som do rio quando se choca com as pedras”... Mas, estes exemplos poderiam se enquadrar na categoria de “música”? Entendo que sim, desde que o comportamento em análise seja o “falar que há música na natureza”. No caso, esse comportamento verbal escrito poderia ser interpretado, funcionalmente, como um tacto verbal metafórico. (Skinner, 1957). Nesse caso, o episódio verbal “inteiro”, isto é, os eventos ambientais (ex. som dos pássaros) e as manifestações do organismo (ex. falar sobre a música da natureza), poderiam representar o conceito de “música” enquanto “comportamento verbal”. No exemplo descrito acima, a minha variável dependente é o comportamento humano (ex. dizer que há música no zunido das asas da abelha), sendo este determinado por variáveis independentes físicas naturais (ex. zunido da abelha). Nessa visão, “música” é um comportamento tipicamente humano. Embora possam ocorrer interações sonoras entre seres de espécies distintas, apenas na espécie humana denomino de “música”, tendo como base que música é um comportamento tipicamente humano. “Música” também é um “comportamento verbal” exclusivo à espécie humana. “Sons” entre seres de outras espécies (ex. latidos entre cães), são apenas eventos com funções evocadoras, eliciadoras e selecionadoras naturais. Em outras palavras, para os demais seres vivos, os “sons” apenas “são como são”. Em síntese, “música”, para mim, é “comportamento não-verbal e verbal humano”. Este comportamento apresenta determinações naturais, históricas e culturais. Ao falar de “música”, o objeto de estudo é o comportamento humano, ou seja, é a variável dependente (salvo em pesquisas/investigações que estudam os efeitos da música em seres de outras espécies). 1. 30/04/23 2. 27/07/23 3. 28/07/23 4. 27/08/23
2. QUAL É A IMPORTÂNCIA DA “MÚSICA”?
Precisei de um tempo considerável (quase 30 dias) para formular uma resposta a essa pergunta. Trata-se de uma pergunta que jamais havia cogitado. Dificilmente, alguém me perguntaria isso. Ao menos, ninguém havia me perguntado até então. “A música está presente em todos os dias da minha vida”. Seria a oração anterior, de fato, uma descrição precisa dos eventos, sem exageros (ex. realmente “todos” os dias)? Talvez sim. Mas, preciso organizar as ideias para defender minha hipótese de que trata-se de uma fala fidedigna. Nestes últimos 30 dias, percebi que ouvi música em casa e, principalmente, no carro. Em função do projeto de tocar músicas no campus, criei (sem uma programação específica) circunstâncias/contingências que aumentam a frequência do comportamento de cantar (“cantar” aberto, encoberto, público e privado). Nesse contexto, comecei a “prestar mais atenção” nas letras das músicas (em inglês e português). As letras são verdadeiras “poesias” - no sentido etimológico do termo, derivado do grego “poiesis” - e, em muitos casos, “poemas”, ou seja, orações organizadas em versos e rimas. (Porto Editora, n.d.). Do ponto de vista funcional, as letras das canções podem ser entendidas como comportamentos verbais escritos / orais com múltiplas funções descritas por Skinner (1957). Além de serem comportamentos verbais, percebo que as letras das canções também podem exibir a função de “operações estabelecedoras”. Darei um exemplo que endossa o que eu disse. Destaquei que, ultimamente, “prestei mais atenção” nas letras. Por que isso ocorreu? Acredito que, por ter meus comportamentos expostos a circunstâncias/contingências musicais (ex. shows regulares no Campus), as letras das músicas se tornaram eventos evocativos-eliciadores e selecionadores de meus comportamentos “perceptivos”. Seria este um exemplo adequado de operações estabelecedoras? (Moreira & Medeiros, 2019). Não quero, no entanto, reduzir a música ao meu fascínio em relação aos conceitos comportamentais. Portanto, prossigamos. “A música é capaz de alterar a forma como me relaciono com o mundo, com as pessoas e comigo mesmo”. (Não resistirei: ela realmente altera funções de estímulos que são apresentados aos meus comportamentos da vida cotidiana). Especificarei a frase em negrito com um exemplo. Nos últimos dias, ouvi comentários do tipo “mas, você nunca fica triste?”, “ah… você sempre acorda feliz!”, “ta todo sorridente… que sacooo!” nas mais diversas ocasiões, sobretudo na universidade. Isso me deixou “encafifado”, eu diria. Obviamente, “fico triste”, “acordo de mau-humor” e “fico com a cara murcha” (sem sorriso). Contudo, ainda assim, as frases do parágrafo anterior estiveram presentes. Demorou um tempo para investigar o que ocorria ao longo do meu dia para que, de algum modo, na minha presença fossem evocados esses tipos de respostas verbais orais. Mas, acho que cheguei a um ponto: música. Ao longo do dia, parece que a “música me inocula das adversidades diárias”. Em dias com situações horríveis, uma dose de música é capaz de evocar-eliciar sentimentos de alegria, conforto e promover diversos sorrisos meus. Mesmo quando estou diante da “tristeza”, parece que as músicas conversam com meus sentimentos indesejados. “Minha tristeza é, de algum modo, ouvida através das harmonias das canções e, assim, transformada em sabedoria”. Conecto-me com artistas ao ouvir suas músicas. Quando eu acompanho tais artistas com minha voz, sinto-me acolhido. Sinto-me parte de uma “família”, de “algo maior” do que eu e meus problemas. E quando toco as músicas dessas pessoas que eu amo, aprendo com elas, embora elas nem saibam da minha existência. Sendo assim, “a música é a minha oração diária! Com a música, sinto-me parte do gênero humano e consigo atravessar pelos vales tenebrosos e mortais que eu me deparar!” Mas, alguém poderia perguntar: “qualquer música é capaz de evocar a fala que você descreveu acima?” Bem, ainda tenho dificuldade de elaborar uma resposta para essa questão. Talvez sim. Por exemplo, certa vez, antes de ir a uma festa universitária, um amigo colocou clipes de funk na televisão. O clipe foi interessante - não pela sua letra ou imagens, mas por seu ritmo e questões sociais que a letra tocava brevemente. Apesar de eu identificar rejeições formais ao gênero do “funk brasileiro”, tenho a impressão de que ele é “secretamente” ouvido, dançado e curtido por seus críticos que vão para baladas, por exemplo. Nesse sentido, acredito que, em cada ocasião cabe uma música, com ritmos, melodias e harmonias particulares. Pode perceber: pessoas se sentem bem diante de sons padronizados que chamamos de música. Eventualmente, cantam, acompanham o ritmo com os pés e, em caso de uma punição a comportamentos musicais públicos for provável, ele ainda ocorrerá, mas de maneira privada ou encoberta (Skinner, 1957). “A música é poderosa. Ela atravessa até mesmo os corações mais gelados. Ela encontra as portas do “core” e o invade completamente. Para atingir tal façanha, ela utiliza seus diferentes gêneros musicais. Jamais conseguirei fazer o que a música faz com alguém sem utilizá-la. É algo praticamente “mágico”! Veja só que bonito. Ao referir-me ao que entendi como um “poder mágico” da música, considerei-a quase como um ser vivo, um sujeito que age, que opera em seu meio. Isso me lembrou a origem da palavra “música”, que advém da Grécia Antiga. “Música” faz referência a entidades míticas denominadas “Musas”, responsáveis por diversos eventos humanos, como “amor” e “loucura”, como narra Platão no diálogo de “Fedro” (Bini, 2012). Por fim, “com a Música, vejo a vida com mais cor. Um abraço singelo torna-se um verdadeiro encontro de almas. Um suspiro se torna uma revelação do “mistério”, digna de admiração e especulação (Pieper, 2008). Até mesmo um terrível momento pode se tornar uma ocasião para eu pensar ‘como posso escrever sobre isso?’. Com a Música, sinto e encontro a verdadeira ‘beleza’ louvada pelos antigos Gregos” (Souza, 2018). 1. 29/05/23 2. 27/07/23 3. 27/08/23
3. O QUE PODE SER O “FAZER MUSICAL”?
Acredito que o“fazer musical” envolve múltiplos comportamentos abertos e públicos, bem como encobertos e privados. Além disso, entendo que o “ouvir”, “ver”, “sentir”, “admirar” obras de arte musicais também fazem parte do “fazer musical”. Aqui, espero deixar claro minha posição adversa à ideia de “ser musical”, ilustrada pelas seguintes frases: “para fazer música, é preciso ser músico” ou “sou músico e, portanto, faço músicas”. Porém, se o “ser musical” for compreendido como um conjunto de repertórios comportamentais complexos e, consequentemente, determinados, selecionados e mantidos por variáveis independentes físicas (naturais e sociais), então concordo com tal visão. Todos os seres humanos podem ser entendidos como “seres musicais” na medida em que interagem com ritmos, melodias e harmonias produzidas por outros seres humanos (quiçá, outros seres vivos). Em relação ao “fazer musical”, existe o “fazer musical ouvinte” e “fazer musical falante”, em coerência com a perspectiva de Skinner (1957). A partir do contato com estímulos verbais orais, escritos, gestuais (e talvez, até mesmo, “pictóricos”), são evocadas-eliciadas respostas verbais do ouvinte que, ao comportar-se, pode selecionar ou não comportamentos do falante (Ming et al. 2023; Skinner, 1957). Em resumo, o “fazer musical” é um episódio verbal entre falante e ouvinte. Um episódio verbal musical é um fenômeno quase “mágico”, dada a sua potencialidade de evocação, seleção, manutenção e extinção de comportamentos de seus envolvidos. A depender das variáveis envolvidas em operação (ex. privação de contatos sociais e afetivos, alta frequência de contato com “problemas diários”), o contato musical pode, realmente, “transformar” caminhos. (Gostaria de ter mais dados empíricos para sustentar minhas hipóteses. Ainda não possuo. Quem sabe, futuramente). Vale destacar que ao dizer “fazer musical”, a parte da “música” envolve conceitos como “ritmo”, “melodia” e “harmonia”. Contudo, os três conceitos não precisam estar presentes, obrigatoriamente, no mesmo instante, como demonstram movimentos musicais alternativos (ex. músicas do gênero “Punk” que envolvem apenas a emissão de um único som em toda música). Pelo que percebo, tais elementos (ex. ritmo, melodia e harmonia), ainda que separados, continuam a apresentar funções de estímulos relevantes. Para isso ocorrer, no entanto, devemos considerar as determinações históricas, culturais, naturais da música, como abordado anteriormente. Se for possível sintetizar o que foi dito nesta seção em poucas palavras, diria: “a música é feita por todas e para todas as pessoas”. O “fazer musical” pode ocorrer diariamente, basta ocorrer uma interação musical entre dois ou mais seres humanos, de forma síncrona ou assíncrona (ex. ouvir música no Spotify). Vejo um real “poder” de transformação na música, embora isso pode não ocorrer devido a diversas variáveis em operação. A partir da perspectiva de Bini (2012), as músicas apresentam “magia” suficiente para atingir seu objetivo geral de transformar eventos, comportamentos e, poeticamente, “vidas”. Desse modo, que haja Música! 1. 19/06/23 2. 27/07/23 3. 27/08/23
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em 23 anos de vida e, penso eu, com a mesma quantidade de anos em contato com “episódios verbais musicais” promovidos por diferentes comunidades verbais, foi a primeira vez que dediquei palavras e verbos para a “Música”. Por si só, essa experiência foi sensacional. Desejo compartilhar com você tal vivência. Assim, convido você a realizar a sua empreitada literária/musical/artística em busca de respostas para três questões basilares: 1. O que é a “música”? 2. Qual é a importância da “música” 3. O que pode ser o “fazer musical”? Depois que finalizar suas reflexões, sugiro fortemente que as registre. “Registros escritos / digitados são belos, facilitam a vida e, a depender das circunstâncias, podem inspirar outras pessoas a produzirem materialidades admiráveis” (Pieper, 2008). E, claro, adorarei ver / ouvir suas avaliações musicais. Minhas reflexões estão sob análise. Desse modo, aguardo você para construirmos, em conjunto, um singelo “saber musical”. 1. 19/06/23 2. 27/07/23 3. 27/08/23
REFERÊNCIAS
Adorno, T. W. & Horkheimer, M. Dialética do Esclarecimento (1947) - tradução de Guido Antonio de Almeida. São Paulo, SP: Zahar, 1985. Bini, E. Fedro / Platão. São Paulo, SP: Edipro, 2012.
Dicionário da Língua Portuguesa. Porto: Porto Editora. Disponível em: <https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/>. Acesso em: 27 jul. 2023.
Guilhardi, H. J. Definição de Comportamento. ITCR-Campinas, 2022. Disponível em: <https://itcrcampinas.com.br/pdf/helio/definicao_de_comportamento.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2023.
Ming, S., Gould, E., & Fiebig, J. H. Understanding and applying relational frame theory: Mastering the foundations of complex language in our work and lives as behavior analysts. New Harbinger Publications, 2023.
Moreira, M. B. & Medeiros, C. A. Princípios Básicos de Análise do Comportamento. 2. ed. Porto Alegre, RS: Artmed, 2019.
Pieper, J. O que é Filosofar? - Tradutor: Francisco de Ambrosia. São Paulo, SP: Edições Loyola, 2008. Skinner, B. F.
Ciência e Comportamento Humano (1953). 11. ed. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2003. Skinner, B. F. Verbal Behavior. New York: Appleton-Century-Crofts, 1957.
Souza, J. B. M. Rei Édipo e Antígona: tragédias gregas / Sófocles; tradução de J. B. Mello e Souza; prefácio e notas J.B. Mello e Souza. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.
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