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Luciano Martorelli Moreno

A falsa obrigação de sorrir e ser forte o tempo todo

É muito comum escutar que não podemos ser fracos e temos que estar sempre sorrindo, principalmente em contextos de senso comum e ambientes de autoajuda ou motivacionais, essa fala é apresentada de forma displicente.

Trazendo pro contexto da pratica psicológica, respeitar os conflitos subjetivos e as angustias cotidianas de cada pessoas é o mínimo que nós, profissionais da psicologia, podemos fazer.

Entrando nesse mérito, podemos dizer que ao estabelecer um processo obrigatório de felicidade e força, seja no contexto profissional, psicológico, ou qualquer um dos outros que determinamos anteriormente, é de uma falta de empatia e de um mecanicismo gigantesco, pois ao tentar obrigar uma pessoa que está em sofrimento psicológico a se manter forte e sorrindo, é como obrigar alguém que está se recuperando de uma contusão ou lesão física a se colocar em uma situação onde o esforço físico é inevitável.

Cabe afirmar aqui que, para nós, psicólogos comportamentais, o organismo humano é um só, seja ele de fator fisiológico ou psicológico, entendendo isso podemos afirmar que um trauma psicológico é tão real quanto uma perna quebrada. Levando isso em consideração, o contexto de uma patologia psicológica como ansiedade, depressão ou síndrome do pânico (entre outras), geram modificações no organismo tão graves quanto um acidente de trânsito, por exemplo.

O senso comum trata o trauma psicológico como se ele fosse um espectro paralelo a estrutura fisiológica do ser humano, fazendo com que tal espectro seja considerado algo como uma crença ou uma ideologia e não como o trauma em si, que gera restrições e reestruturações do organismo.

Para ilustrar o que estou dizendo aqui, sempre costumo usar uma cicatriz que tenho em meu braço direito, que mede aproximadamente vinte centímetros de um extremo a outro, essa cicatriz é fruto de um acidente de trabalho, e quando olham, de imediato, conseguem perceber que, no período de recuperação, após a contusão, eu precisei de repouso, medicação e restrição das minhas atividades cotidianas por um período de aproximadamente de três meses.

Dali em diante venho até hoje tomando o devido cuidado com a área lesionada, e também percebo que a sensibilidade da pele da área da lesão, foi modificada. Pelo descrito, esse trauma fisiológico que sofri a cerca e 10 anos atras, vocês que estão lendo, conseguiram se identificar com o tamanho sofrimento que vivenciei no momento da lesão e no processo de recuperação.

O que eu quero dizer com isso é que, não devemos olhar para um trauma psicológico de maneira diferente a isso, pois se eu tivesse descrevendo para vocês um trauma de síndrome do pânico que vivenciei a dez anos atras, tenho quase certeza que a dificuldade de se compadecer com o meu sofrimento seria inerente, já que o trauma psicológico da síndrome do pânico não é visível através da observação de uma cicatriz, mas as modificações fisiológicas que influenciam a minha interação com o ambiente, são tão reais quanto uma cicatriz de um trauma físico, e necessitam tanto quanto da atenção e empatia que apresentamos diante de um trauma fisiológico.

Tenho quase certeza que você, que está lendo este texto agora, dificilmente diria para alguém que te descreve uma dor física que a pessoa deve ser forte e sorrir, então eu te pergunto, porque fazemos isso quando alguém nos descreve uma dor psicológica!? Finalizo esse texto referenciando o título, e você que está vivenciando o processo de recuperação de um trauma psicológico, ou está acompanhando alguém que está em processo de recuperação, precisa entender que, não devemos nos obrigar e nem obrigar ninguém a ser FORTE E FELIZ O TEMPO TODO.

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