Algumas pesquisas destacam que até 2050 o Brasil terá a quinta maior população de pessoas idosas do mundo (Miranda, Mendes & Silva, 2016; Silva & Dal Prá, 2014).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE (2021) atualmente, no Brasil, a expectativa de vida dos homens é de 73,1 e das mulheres de 80,1 e considera-se pessoas idosas indivíduos com 60 anos ou mais.
A expectativa de vida aumentou muito rápido e talvez, pelo fato de termos sido um país em que a maioria da população era jovem, a nossa cultura social nos ensinou a valorizar o jovem (que foi associado a vigor, beleza e vida). Desta forma, observamos mitos e estereótipos negativos que cercam a velhice e que contribuem para que a pessoa idosa não reconheça o seu lugar de pertencimento na sociedade durante essa fase da vida. Por muito tempo pensava-se o envelhecimento por meio da “curva do U invertido” em que na linha ascendente o indivíduo estaria se desenvolvendo, no ápice da curva o indivíduo teria alcançado todo o desenvolvimento (maturidade) e a linha descendente representaria o declínio do desenvolvimento conquistado e consequentemente do indivíduo e assim, o envelhecimento foi associado a doenças e perdas, ou seja a deterioração do corpo. No entanto, de acordo com Papaléo Neto (2006) o envelhecimento começa com a concepção e termina com a morte sendo pensado por meio de uma linha contínua que é a vida. Nesta perspectiva, o envelhecimento é visto como um processo e a velhice como uma fase e, considera-se que o ser humano está em constante desenvolvimento do nascer ao morrer.
O envelhecimento é um processo natural e inerente à vida e quem não quiser ficar velho terá que morrer antes. Indivíduos vivos irão envelhecer e não adianta apelar para as plásticas ou outras formas de intervenção uma vez que, elas podem ser ilusórias já que as células do coração, do rim etc., também envelhecem. No decorrer do processo de envelhecimento ocorrem mudanças biológicas, físicas e sociais que vão interferindo no comportamento do indivíduo inclusive na sexualidade que “é compreendida como um elemento que dá sentido e significado à existência humana, representando uma função vital do indivíduo, da qual fazem parte múltiplos fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais, transmitidos de geração em geração” (Vieira, Nóbrega, Arruda & Veiga., 2016). Vários fatores interferem na sexualidade da pessoa idosa como por exemplo, as alterações hormonais, a capacidade e interesse do companheiro, a perda de privacidade (dividir quarto com netos, morar com filhos), características das relações sexuais na juventude, depressão, viuvez, diminuição da autoestima, efeitos colaterais de medicamentos e problemas de impotência ou de dispareunia (Alencar, Marques, Leal & Vieira, 2014).
Na minha prática clínica percebo que o desconhecimento acerca da sexualidade, a falta de comunicação entre os cônjuges e a falta de habilidade de muitos profissionais de saúde em abordar a temática da sexualidade podem contribuir no sofrimento da pessoa idosa. Percebo que muitos homens idosos, por terem sido expostos, ao longo da vida a regras sociais machistas, não sabem viver a sexualidade sem os genitais e isto pode impactar na sua saúde mental.
Para finalizar, constato que embora a população brasileira esteja envelhecendo ainda não estamos preparados para compreender e lidar com as demandas da população idosa. Acho que teríamos que promover campanhas educacionais sobre sexualidade voltada para a pessoa idosa, trabalhar com as gerações novas e velhas os preconceitos, medo, vergonha, culpa e falsas ideologias relacionados a sexualidade, promover cursos para os profissionais que trabalham com a pessoa idosa, e sensibilização dos meios de comunicação para divulgarem informações corretas relacionadas a esta temática.
Referências
Alencar, D. L., Marques., A. P. O., Leal, M. C. C., & Vieira, J. C. M. (2014). Fatores que interferem na sexualidade de idosos: uma revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva, 19(8), 3533-3542. https://doi.org/10.1590/1413-81232014198.12092013 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2021). Expectativa de vida dos brasileiros aumenta 3 meses e chega a 76,6 anos em 2019. Disponível em https://censo2021.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/29505-expectativa-de-vida-dos-brasileiros-aumenta-3-meses-e-chega-a-76-6-anos-em-2019.html
Miranda, G. M. D., Mendes, A. C. G., & Silva, A. L. A. (2016). O envelhecimento populacional brasileiro: desafios e consequências sociais atuais e futuras. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 19(3), 507-519. https://doi.org/10.1590/1809-98232016019.150140
Papáleo Neto, M. (2006). O estudo da velhice: histórico, definição do campo e termos básicos. Em Elizabete Viana de Freitas et al. (Orgs.)Tratado de geriatria e gerontologia, Guanabara Koogan, p.2- p. 12.
Silva, A. & Dal Prá, K. R. (2014) Envelhecimento populacional no Brasil: o lugar das famílias na proteção aos idosos. Argumentum, , v. 6, n. 1, p. 99-115.
Vieira, K. F. L., Nóbrega, R. P. M., Arruda, M. V. S. & Veiga, P. M. M. (2016). Representação Social das Relações Sexuais: um Estudo Transgeracional entre Mulheres. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2), 329-340. https://doi.org/10.1590/1982-3703001752013
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